quinta-feira, 9 de julho de 2009

O ROMANCE..

Pela manhã, acorda Artur Weber pensando em seu romance, talvez nunca tenha passado por sua cabeça que escrever um romance fosse tão difícil (...) em sua infância nadou na correnteza dos contrários, passou alguns anos adoecido, se curou; jogava bola como um rei, queria ser jogador, organizava a pelada, chegou a se destacar(...) de certo não era de longe o melhor mas tinha talento; grande menino; ia a igreja com os pais, queria ser pastor, sonhava alto. Nesse tempo sua mãe ditava as ordens, as roupas e o comportamento, tinha sempre bom gosto, de família humilde, filho de operário, Artur Weber se destacava na escola dominical, tinha uma inteligência de menino e uma sabedoria de homem. Nas escrituras sagradas encontrava seu alívio. Menino esperto, organizava a pelada e o pessoal do bairro sempre o chamava, vivia descalço, jogando bola na rua, no clube, em todos os lugares, na escola não era tão ruim, tirava notas boas, sempre tinha uma paixão escondida por uma aluna, coisa de menino. Era contido, não gostava de muita bagunça, por vezes tímido, não chamava muita atenção ou não dava muita atenção ao que ocorria. As professoras do primário sempre diziam - esse menino vive no mundo da lua, é que na verdade tinha muita imaginação, desconstruía e construía o mundo, pensava no que poderia ser se fosse diferente, olhava os jardins da escola com uma atenção voltada aos beija-flores e seu espectáculo emquando se esquecia das lições de matemática, mas mesmo assim, era aplicado conseguia boas notas. Não era primeiro da classe mas chegava na ponta e tinha uma simpatia que conquistava as professoras.
O primário era colorido, lindo, as festas juninas então... corria saltava, era uma alegria só, é verdade que as mulheres amadurecem mais cedo, coisa que Artur não entendia naquela época. As meninas crescendo peitinhos e ele baixinho com aqueles cabelos corridos, não entendia muito bem. Demorou pouco tempo pra entender; mas ele adorava admira-las em secreto com um pudor despudorado, um menino que queria ser pastor já não sabia mais ao certo desde que viu o primeiro par de seios na blusa de uma loira que lhe deu um beijo no rosto na 4º série. A vida ia mudando cada dia mais... Artur como um pré adolescente comum frequentava a igreja, já não queria ser pastor, agora só queria jogar bola, e quem sabe, ser jogador profissional? cultivava um carinho especial pela diversão mas o terror começava a cerca-lo; em família se sentia pouco ambientado, personalidade forte, poucos amigos, muitos colegas, não gostava muito de conversar com os pais, talvez a religião tivesse lhe imputado tanto pudor que não conseguia se adaptar as mudanças de seu corpo, a voz teimava em engrossar, tinha desejo por mulheres mais velhas, principalmente as de dezessete e dezoito anos, entre os doze e treze anos de idade Artur Weber não gostava de comentar com amigos sobre mulheres, nem com seus pais, mas adorava sair as escondidas atrás de uma quadra onde jogava bola e ficar com as meninas que conseguia. No outro dia, pedia sigilo, era puro impulso, quando desejado demais pelas mocinhas lindas de sua idade sentia-se frustrado, pela cobrança dos amigos do futebol ficava intimidado, era inseguro e brilhante, mas muito atrapalhado. Numa das vezes se deixou levar pelas brincadeiras e zombarias e não suportava mais ... ao invés de se impor, aos quatorze anos tudo é diferente uma palavra se torna um terremoto, se intimidou, deixou que os outros falassem por ele, a começar pela própria casa, Artur Weber era obediente, seus pais eram muito rígidos e de certa forma viva uma vida regrada. Não saia como os meninos de sua idade e já não suportava os garotos de sua faixa etária, sua beleza chamava atenção das meninas, mas ele desprezava tal beleza embora fosse vaidoso, talvez, por ser um romântico sem saber. A cada dia ficava mais insuportável, e Artur aos quinze anos se apaixonou perdidamente; um namorico de garoto, mas nesse período já se sentia diferente dos demais, já não era mais o garoto que jogava bola, muito menos o aluno aplicado na escola, em matemática afundara, odiava sala de aula e estava lendo "Nietzsche", Marquês de Sade, entre outros poetas e filósofos nas aulas; isso quando não estava dormindo, pouco importava tempo, aceleração e atrito, ele buscava mais! não sabia o que queria exatamente. Mas os livros eram seus melhores amigos. -Acho que estou conseguindo expor: diz Artur Weber, meu romance não tem nexo, e uma autobiografia reflexiva, tenho lições pra dar a mim mesmo e talvez não termine; é um romance aberto. Espero na próxima página falar melhor desse namorico e de como descobri Nietzsche como anestésico as aulas horríveis que era obrigado a assistir pelo menos em corpo presente. Mas caro leitor, se um dia leres este romance, interprete como a tentativa de escrever a vida (...) se me equivoco, pelo menos tento escrever. - Deitado diante da mobília, Artur Weber Adormece, sem saber o que fazer, pois precisa escrever um romance e não sabe por onde começar.