sábado, 10 de janeiro de 2009

Uma conversa.

Pergunta: Surge-me uma nova questão, pode parecer estranha, mas veio como um raio. Bom, uma vez que temos as singularidades, que nunca se repetem, e para pensar Deleuze, pensamos em termos de singularidades cujo os corpos é o que há de ontológico. Portanto as singularidades não se repetem, com isso podemos crer que o que se dá é á diferença. Pois bem, tais singularidades por serem impessoais comporta uma multiplicidade. Daí queria entender melhor esse ponto, multiplicidade e singularidade. Se há realmente multiplicidade na singularidade. Sobre o site do Professor Ulpiano, foi uma ótima dica. Valeu, velho.

R: Para entender o que é multiplicidade e singularidade, convém também sacar o que é a diferença e como ela foi pensada pela filosofia sedentária. O que vou tentar fazer é mostrar para você que a diferença é a relação identitária entre termos, pressupondo assim algum tipo de contradição. Já a singularidade é pensada como acontecimento único. Poderia começar com vários filósofos, mas vou até a base, na lógica aristotélica.
Aristóteles propõe quatro princípios da lógica que perduram até hoje na filosofia sedentária. São eles: 1) O princípio da identidade: A=A, ou seja, tudo aquilo que é, para ser si mesmo, deve permanecer igual a si mesmo no durar do tempo; 2) O princípio da não-contradição, A é diferente de B, para algo ser si mesmo deve ser distinto de um outro clara e objetivamente; 3) Princípio do terceiro excluído: A + B = C ou D. A união de dois termos só pode dar uma coisa ou outra, jamais uma miríade de termos distintos; por fim 4) Princípio da casualidade: A causa B causa C causa D causa E. Portanto, A até causa E, mas não sem antes ter passado por um processo de diferenciação constante e ininterrupta. Essa lógica aristotélica estabelece uma diferença. No entanto, é uma diferença entre termos, ou seja, em busca de uma união entre eles. Os termos são diferentes porque são comparáveis entre si. Há, logo, uma pressuposição homogeneizante em jogo aqui. É preciso haver possibilidade de conseguirmos unir A e B num pensamento/reflexão para conseguirmos distinguir um e outro. Isto posto: a diferença é a união contraditória comparativa entre corpos, pressupondo um meio em comum a estes. Exemplo: se uma cadeira é diferente de uma mesa, esse postulado só é possível porque: primeiro, estabeleceu-se um mundo em comum onde estão presentificados cadeira e mesa; segundo, estabeleceu-se um olhar para além dessas materialidades corporais que pôde a partir disso pensar a diferença entre ambas; e terceiro, o pensamento é a faculdade humana que possibilita a distinção clara e objetiva das diferenças. O que eu quero propor é uma tríade: diferença-homogeneidade-identidade. Quando Deleuze começa a pensar a diferença é para colocar que o diferente é o singular. Veja. O singular não é aquilo que comparado a outro corpo é diferente. Mas aquilo que, em si mesmo, traz uma força de si próprio. Vou tentar ser bem prático. A diferença entre um apagador e um quadro não está nas qualidades identitárias de um quadro e de um apagador, mas no fato de que estamos falando desse ou daquele quadro ou apagador em específico. Veja que interessante! A questão da diferença é uma questão transcedental. A questão da singularidade é uma questão imanente a um corpo. Vamos só mais um pouco. Se a diferença remete à identidade, a singularidade remete a multiplicidade. Cada diferença requer uma identidade e um meio em comum. Cada singularidade, por sua vez, remete a uma multiplicidade de meios. É preciso que sempre se diga qual quadro é este, em que lugar ele está, quem o usa, o que nele é escrito etc. Cada quadro remete a um território específico de existência. É isso.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Lógica do acontecimento. Parte I.

Pensamos errado, em termos predicativos, transcendental ... quando deveríamos pensar de forma diferente, para além do platonismo. Fundar uma ontologia as avessas como fez Deleuze. Transgredir utilizando o que há de mais nobre no pensamento ocidental, e operar pelos fundos, ser máquina de guerra ao invés de estado. As máquinas de guerra são o contrário do estado, e a evolução a-paralela ao estado. Pensamento como máquina de guerra consiste em guerrear sem declarar guerra, uma guerra que se dá pelos fundos. A maneira dos aparelhos de poder.

Por que pensamos em termos de moral ?

Em todo limiar da vida, pergunta-se pelo sujeito ativo, e não pelos acontecimentos, pelo contrário, os acontecimentos são recriminados por um apelo moral qualquer. O pensamento tem medo de não controlar sob seu jugo transcendental as grandes "verdades" da vida. A questão é outra, os acontecimentos incorporais...os fluxos moleculares engendrando-se em singularidades imperceptíveis faz o acontecimento, enquanto os corpos em sua essência são os mesmos, os acontecimentos são variáveis, únicos, singulares. Eis a diferença. É preciso pensar a diferença em si mesma, e isso é a verdadeira potência, toda vontade de potência não comporta uma moral externa constrangedora. Nosso pensamento opera em termos morais, aceitando o que vem de fora e de dentro sem produzir. Havendo produção, criação, cria-se a vida sob uma nova ótica ética e estética.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Uma Pergunta...

Sim, valeu pela dica, percebi a complexidade em querer sacar os conceitos em Deleuze e Guatarri. Sacando as aberturas e interpretações, fica mais claro. Mas voltando ao que queria dizer. Percebo um quebra com relação aos pensadores sedentários ou a tradição da filosofia em Deleuze e Guatarri ... como uma genealogia do pensamentO. Nietzsche já havia insurgido contra essa "boa vontade" na qual tendia o pensamento ocidental. A Razão contra tudo o que é humano, passível de paixões. Nesse sentido leio: A filosofia sedentária preza ao platonismo, a verdade socrática. O pensamento nesse sentido não opera a diferença em sí mesma, potência criadora, que implica movimento, ruptura. Temos, como exemplo, Espinosa no cume dessa ruptura. Tudo bem, mas o conceito de repetição não me é claro na leitura, e o porque essa diferença necessita da repetição. Deleuze (solo) parace fazer uma leitura de que a repetição por si mesma é contra a natureza, por isso transgressora, portanto, aí , opera-se a diferença.